segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O fio da navalha



Já deslizei sobre o fio da navalha,
Já dormi em cama de faquir,
Vivi como mendigo,
Já vivi muitas existências a pedir,
Até nasci faltando um pedaço,
Também já caí e me despedacei num penhasco,

Meu barco já naufragou em tantas tempestades,
Já derreti nas lavas de um vulcão,
Já nasci doente, cheio de limitação,
Um dia nasci, mas nem cresci,
Já morri com pouca idade,

O meu lar já foi uma calçada,
A minha cama foi a calçada
Me arrastei muito pelo chão,
O meu teto, as estrelas da constelação,
No inverno ou no verão,
Um dia, a minha coberta foi uma folha de papelão,

Já explodi em mil pedaços,
Já fui adubo de tantas terras,
Fui mutilado por tantas guerras,
Já segurei tantas brasas na palma da mão,

Já moí pedras com os pés,
Sumi em terremotos,
Também conheci o olho do furacão,
De pé no chão,
Percorri caminhos forrados de espinhos,

Já rolei ladeira abaixo,
Vidas deixaram a pele esfolada,
Em carne viva já fiquei,
Minha pele já foi toda torturada,
Apanhei, sofri, tanta dor já chorei,
Perdia a conta de todas as chibatadas que no tronco levei,

Já vi meu castelo ruir,
Já vi tudo o que tinha sumir,
Já vi o meu lar desmoronar,
Vi um a um, todos aqueles que amei partir,

De tanto nascer e morrer,
De tanto perder e sofrer,
Acho que agora aprendi viver,
Já aprendi a chorar, a perdoar, a repartir,
Agora, vejo o sol iluminar,
A felicidade brotar, o jardim florir,
É, acho que chegou a minha hora de sorrir

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